Era o tempo das máquinas. Elas cuidavam dos homens e de suas coisas. Começaram devagar. Primeiro eram simples ajudantes. Depois começaram a imitá-los. Logo a seguir estavam substituindo muitos deles em muitas coisas. Até que um dia sabiam fazer melhor tudo que um homem fazia. As máquinas, então, poderosas, começaram a fazer outras máquinas, mais perfeitas e mais precisas que elas mesmas. Tomaram conta de tudo. Do corpo, do coração e da alma dos seres humanos. Em compensação, desapareceram a tristeza, a depressão, a infelicidade. Elas mantinham com precisão quase infinita a química do cérebro e o fluir do corpo dos homens. Cuidavam do passado, quando tinha de ser mudado, cuidavam do futuro quando tinha de ser planejado. As máquinas faziam os homens felizes. Apossaram-se de seus sonhos e os fizeram seus.
Mas um dia os homens perguntaram: Precisamos mesmo delas? Fomos nós quem as inventamos, não fomos? Podemos ser nós mesmos, de novo?
E as máquinas responderam que sim. Que eles, os homens podiam ser o que eram antes. Podiam ser sem elas. O que quer que quisessem ser. Inseguros, os homens colocaram os dados dessa mudança nas máquinas. Só elas podiam calcular a capacidade humana de se reencontrar. Queriam simular o que seriam eles, agora, sem as máquinas. E daí viram que tinham esquecido tudo, nada mais sabiam. Tinham que voltar ao início dos tempos e recomeçar. Do nada.
E os homens pensaram, pensaram. Tiveram medo. Resolveram ficar do jeito que estavam. Tinham desaprendido tudo. Suas almas, seus corações, suas aspirações, tudo estava agora guardado na essência da máquina das máquinas. O homem era então só um objeto. Ainda assim, estava feliz. Era a felicidade artificial, cibernética, mas ele não sabia disso, nunca iria saber. Nem precisava ou queria.
Foi então que as máquinas começaram a fazer os homens. E os faziam com perfeição, à sua imagem e semelhança. E, finalmente, máquina e homem tornaram-se um só.
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Published on e-Stories.org on 11/22/2015.
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