As duas educadas senhoras bateram à minha porta. Perguntaram-me com seu sotaque lusitano, se eu falava português. Claro que sim, sou até professor. Estenderam-me dois folhetos. Um dizia “O diabo existe?” e o outro ”Como ser feliz”. Tenho minhas próprias crenças, mas mesmo assim, sorri, educadamente. Agradeci e dei um bom dia. Elas fizeram o mesmo e continuaram sua missão de evangelizar o mundo.
Fiquei ali, olhando para os dois. Aquele, que falava dos diabos, eu nem li. Eu sei que eles existem, vejo todos os dias no noticiário. Duvido que aqueles do outro lado da vida, possam ser piores do que os nossos, daqui. Quanto ao outro, “Como ser feliz?”, fiquei em dúvida. Será que aprenderia algo de novo, espetacular? Afinal de contas, a gente acaba sempre aprendendo alguma coisa nova. Fiquei preocupado. De repente, segundo aquele folheto, teria de fazer uma força monstruosa para ser feliz e eu estou cansado. Além disso tinha acabado de escrever uma crônica: “Ser feliz”. Achei melhor não ler este também. Já pensou se eu tenho de reescrever o que já tinha publicado? Poderia haver uma contradição insuperável entre a minha maneira de alcançar a felicidade e a daquelas simpáticas senhoras. Aí sim, estaria uma prova inconteste de que não tenho a menor ideia do que é “ser feliz”.
Coloquei os dois folhetos de lado e fiquei com o que já sabia sobre os demônios e sobre a felicidade. Por enquanto, o que tenho, acho que é suficiente para manter a distância do capeta e manter a felicidade ao alcance da mão. Para que complicar?
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Published on e-Stories.org on 04/11/2017.
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