Antonio Justel Rodriguez
TESTEMUNHA DA ACUSAÇÃO
À “Leona”, nossa velha e querida cachorra preta, “minha irmãzinha”.
[... pelos tímpanos altos de maio, sob múltiplas precauções por uma solidão exata,
o pastor pendurou e pendurou Leona no tronco mais alto e forte das macieiras em flor,
e, eu, joelho no chão, ou de cócoras, chorando, a pupila indolente,
a da íris encalhada e entregue atrás da fresta da porta]
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... Eu seguro um furacão selvagem de agulhas e quebradeiras que ralaram e sacudiram o pomar,
as vértebras do mundo e os úberes das flores;
que de repente a escuridão se espalhou e o amor e a tarde flutuou sem rumo,
e assim o cisne da vida e o cisne da morte;
... que ninguém, que ninguém sabe até onde está o dano e a dor,
que ninguém, que ninguém sabe !!!
… e ai, ai de mim, porque volto ao famigerado crack
e ainda emergem crianças, íris cromadas,
deitado no chão;
… e é que não, isso não é outra inclemência nem é outro tormento,
deixar “carne crua” e subitamente exposta;
… e agora, agora você vê,
Nem a tristeza tem mais pagamentos do que um buraco aberto na memória,
a de um maio de crianças e destruição e essa ausência que me observa atentamente e me persegue,
aquele que indaga e queima minha alma, e insistente, atrozmente vivo,
me fere e me segue, aquele que me assedia e me assedia e vai cuidar de mim para sempre.
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Antonio Justel Rodrigues
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Published on e-Stories.org on 05/26/2022.